O crime organizado brasileiro e o fracasso da política de combate
- Zallo Comucci

- há 4 horas
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O debate sobre segurança pública no Brasil costuma girar em torno do tráfico de drogas, mas os números mostram que o narcotráfico é apenas uma parte — e não a mais lucrativa — da economia criminal. O Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) continuam se expandindo e diversificando suas atividades, transformando-se em verdadeiros conglomerados ilícitos. A tendência é de crescimento, não de extinção.
Essas facções são a versão brasileira da ’Ndrangheta italiana e da Yakuza japonesa: organizações que se infiltraram nas estruturas do Estado, no sistema econômico e na política. Estudos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que o tráfico de cocaína movimenta cerca de R$ 15 bilhões por ano, enquanto golpes digitais, contrabando e fraudes fiscais ultrapassam R$ 300 bilhões. Ou seja, o dinheiro está em setores legalizados, com pouca fiscalização e alto giro de capital.
Facções e milícias compreenderam que vender drogas é arriscado, mas vender combustível adulterado, ouro ilegal ou cigarros contrabandeados é mais lucrativo e discreto. Essas atividades permitem lavagem de dinheiro, controle territorial e influência política, consolidando o crime como parte da economia formal.
Enquanto isso, o Estado insiste em operações espetaculares que miram o pequeno traficante — a ponta mais fraca da cadeia — e deixam intocadas as estruturas financeiras e logísticas que sustentam o sistema. Gasta-se mais com helicópteros e caveirões do que com inteligência e rastreamento de fluxos financeiros.
Meu ceticismo quanto ao fim dessas organizações nasce dessa contradição. O crime se tornou funcional ao poder político e econômico. Governos dependem do discurso do medo e da promessa de endurecimento penal para sobreviver. Parte da elite empresarial lucra com a insegurança, seja por meio da corrupção, seja por meio de empresas de segurança privada que prosperam com o caos.
Enquanto a violência continuar rendendo votos, contratos e influência, não haverá vontade real de desmantelar o crime organizado.
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